terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Último Post de 2019!

Bom, chegamos a mais um final de ano, a palavra que eu uso pra definir 2019 é "SUPERAÇÃO", eu me superei em todos os sentidos, foi um ano de muitas realizações pessoais e profissionais; 2019 foi um ano pra mim superar a mim mesmo, muita gente não sabe, mas em Julho de 2018 foi uma época bastante difícil, pois meu irmão se acidentou, teve traumatismo craniano, daí foi muito difícil, mas ele já está bem (só tenho a agradecer!); com o ocorrido, eu tive que ficar revezando com minha mãe no hospital e por mais que eu parecesse forte (muita gente diz), meu psicológico não estava tão "saudável" digamos assim, mas não desistir nunca! Continuei firme e forte e eu só iria sair daquele hospital quando meu irmão estivesse em casa!

Pois bem, com tudo isso, eu não tive muito tempo pra treinar nada, nada mesmo, nem mesmo a meditação que eu sempre fiz, daí fui comendo mal, dormindo mal, ganhando peso, cheguei aos 96 kg e a única coisa que eu fazia era chorar por não acreditar que aquilo estava acontecendo com a gente (na verdade nunca sabemos de nada). Tudo isso estava acontecendo, mas sabe aquele força positiva que você sente que tudo vai dá certo?! pois é, eu sempre tive isso comigo e é algo que nunca vou deixar se levar, pois devemos acreditar até o final.

Muito desse meu posicionamento positivo que tenho em mim é graças ao Karatê-Dô; estava lá eu vivenciando aquela situação, mas sempre pensando em Karatê-Dô pois era a única coisa que podia me suprimir naquele momento. Sabe, é nesse momento de dificuldade que a gente conhece nosso verdadeiros amigos; quem me ajudou muito nesse momento foi minha namorada Thais, meus amigos de infância que passaram uma semana lá em casa pra "amenizar", "passar o tempo", "ajudar", só tenho a agradecer a todos!

Passado tudo isso, chegou o ano de 2019; por isso escolhi "SUPERAÇÃO", pois defini tudo que venho melhorando do começo do ano pra cá; entrei na academia com 92kg, agora estou com 80kg, perdi 12kg o objetivo nunca acaba; retomei aos treinamentos; mudei minha alimentação e claro, aconteceu o meu Exame para Faixa Preta, mesmo treinando em cima da hora, conquistei minha Faixa Preta! É pra finalizar o ano mais feliz ainda! Sério, eu pensava que iria alcançar a faixa preta no ano de 2020 pra lá... Só tenho gratidão por tudo e por todos! Há coisas que acontecem nas nossas vidas que só temos agradecer sempre!

2020 está aí, novas perspectivas para uma vida melhor, hábitos melhores, uma vida nova!; 2020 é também uma nova década e assim, um ano novo para o nosso Karatê-Dô e pra quem não sabe, nosso Karatê-Dô é agora modalidade olímpica e com isso teremos várias atrações nas Olimpíadas de Tokyo, e esperamos não só grandes conquistas, mas sim, teremos oportunidades de elevar mais ainda nosso Karatê para que ele seja maior do que já é em todos os aspectos! É uma nova era e acredito que terá grandes novidades a nos esperar!

Bom, desejo a todos um Feliz Ano Novo que seja mais uma ano de coisas boas, pensamentos positivos e muita saúde para seguirmos adiante com nossos objetivos; que o ego fique de lado para darmos as mãos e seguirmos firme e fortes!


Feliz 2020!

Boas Festas!

sábado, 28 de dezembro de 2019

Karatê Pula-Pula



Já faz um tempo que ouvi falar desse termo “Karatê Pula-Pula” e depois de acessar o blog do Sensei Jayme Sandal vi que usam de forma pejorativa (que tem sentido desagradável, sem sentido e ainda desrespeitoso) e eu precisava dar minha opinião a respeito. Não entendo como ainda exista adeptos de outras artes marciais que “ousam” a desrespeitar, mesmo sem conhecer. Ouço isso desde quando comecei meus treinamentos de Karatê-Dô e muitos acham que Karatê serve apenas para crianças ou para ficar pulando feito canguru. É aí que muitos se enganam, pois não sabem da eficiência que o quique (ficar pulando e mantendo o ritmo) pode ter, no começo parece fácil (ou difícil) só ficar pulando e ficar “gritando” (muitos Karatecas no início fazem isso), mas com o tempo quando se pega o ritmo da movimentação do quique e com os golpes de ataque e defesa você começa a ter uma noção de que está se tornando apto nas técnicas e é exatamente das técnicas que precisamos melhorar a cada dia.

O que se sabe até agora desses adeptos que falam que o Karatê Pula-Pula não tem eficiência é que eles não têm noção do que estão falando ou fazendo, eles acham que é só chegar na academia treinar Muai Thay, Jiu-Jitsu, fazer umas sequências aqui, coloca no status do Instagram, Whatsapp, Facebook e dizem já ter muita “eficiência” por estarem indo a academia, tirando fotos, como se fosse dono do mundo, bem, não tenho nenhum problema em tirar foto e postar nas devidas redes sociais, o problema é que a galera acha que treinar é coisa de “moda”. Acham que treinam um mês e já se dão o nome de Samurai, sendo que não sabe nem o que tá fazendo e falando, e quando vão fazer trocação com outro praticante de outra arte marcial acabam arregando.

Lyoto “THE DRAGON” Machida, é o nome do Karateca Brasileiro, filho do Sensei Yoshizo Machida 8º Dan JKA. Lyoto foi o único Karateca que mostrou a eficiência do Karatê dentro do UFC-MMA e colocou vários adversários de nome pra baixo, não sou eu que estou falando isso, é só procurar no YouTube da vida. Foi lá, quicando, estudando o oponente e quando o adversário mostrava uma brecha ele finalizava com o seu famoso Go No Sem (termo de defesa e contra golpe) usando Gyaku-Zuki como contra golpe. E foi assim que ele aos poucos foi conquistando seu objetivo e principalmente mostrando a eficiência que o Karatê-Dô tem.

A forma como lutamos pode parecer igual, todos nós que somos praticantes de Karatê-Dô quicamos ou não, tem aqueles que quicam um pouco depois fica parado ou ainda aqueles que lutam apenas paradão, não importa, é apenas a forma que melhor nos adaptamos e num contexto mais complexo, o quique no Karatê tem uma eficiência enorme, além de a gente manter o ritmo do quique temos que manter juntamente com o quique os movimentos superiores e inferiores, temos que fazer sequências de chute, soco, defesa, tudo isso sem deixar de quicar, além da perda de peso, pois se trata de exercício aeróbio, velocidade, coordenação motora, raciocínio rápido, força, resistência, são vários fatores que o quique no Karatê-Dô pode proporcionar.

Então, o gasto de energia que temos durante um treino de Karatê-Dô associado a uma alimentação saudável, bom sono, beber bastante água, pra quem pensa em emagrecer é uma ótima ferramenta, mas mais do que isso o Karatê-Dô deve ser seguido como um caminho de vida, e esses são apenas alguns dos benefícios que o Karatê-Dô pode trazer. Muitos criticam o Karatê Pula Pula se referindo principalmente ao Karatê Esportivo da WKF antiga (WUKO), e muitos falam que o Karatê Pula-Pula deles não presta ou não é eficiente e bla, bla, bla. Falam isso porque não conhecem feras como: Raphael Aghayev, Luigi Busa, Stanislav Horuna, Douglas Brose, Ko Matsuhisa, são só alguns dos nomes mais conhecidos e pode ter certeza é um Karatê eficiente. Para aqueles que estão começando a treinar agora minha dica é: “Continue no caminho, faça sua parte, ouça o seu Sensei sempre atento, treine sempre com afinco, não brinque no Dojo, e nunca dê ouvidos a quem não sabe de nada, acredite na sua técnica”.

“Seu sorriso pode conquistar até o coração das crianças; sua ira pode fazer um tigre encolher-se de medo. Sucintamente, essas palavras descrevem o verdadeiro praticante de artes marciais”. Mestre Gichin Funakoshi

Grande abraço!

Osu!

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

O Livro dos Cinco Anéis / Gorin no Sho / 五輪書

O Livro dos Cinco Anéis
O Clássico Japonês da Estratégia


O Livro dos Cinco Anéis - Gorin No Sho - é o mais importante tratado estratégico dos samurais. Seu autor, Miyamoto Musashi (1584-1645), é considerado o samurai mais famoso de todos os tempos. Em sua época, derrubou escolas consagradas e venceu guerreiros formidáveis, impondo-se como um guerreiro imbatível. Lutou mais de 60 duelos, esteve presente em diversas batalhas e nunca foi derrotado.

Criou o Niten Ichi Ryu, um dos mais famosos estilos de Kenjutsu, a arte do manuseio da espada, especialmente conhecido por suas técnicas com duas espadas simultaneamente. No final de sua vida, Miyamoto Musashi se isolou em uma remota caverna e escreveu o Gorin No Sho, deixando assim registrado para seus discípulos sua estratégia e sabedoria, adquiridas em uma vida dedicada ao aprimoramento técnico e espiritual.

Dez gerações de discípulos depois, chega ao Brasil a edição definitiva do Gorin No Sho em português. O livro conta com a revisão técnica do Sensei Jorge Kishikawa, o introdutor no Brasil do Niten Ichi Ryu e o primeiro no ocidente a alcançar o Menkyo Kaiden, a mais alta graduação neste estilo.

O maior mestre do Niten Ichi Ryu nos últimos anos, o Shihan Gosho Motoharu, escreveu a apresentação da obra. O Shihan Gosho é o mestre representante da nona geração, e pratica o estilo há mais de cinco décadas, uma vida inteira dedicada à compreenção e transmissão dos ensinamentos de Miyamoto Musashi.



Esta é a grande diferença entre esta e as outras edições do Gorin No Sho publicadas anteriormente. Pela primeira vez no Brasil (e também no ocidente), a obra nos é trazida por pessoas que tem de fato a experiência prática no estilo de Musashi, que fazem do treinamento seu caminho para o aprimoramenteo, algo tão enfatizado pelo autor em seu texto.

A obra foi magistralmente traduzida diretamente do original em japonês por Dirce Miyamura, conhecida por seus trabalhos na Fundação Japão. A edição é apresentada em formato bilíngüe, com o texto original incluso.

Para completar a maior e mais elaborada edição do Gorin No Sho já publicada, estão as gravuras de Hokusai, o mais famoso pintor do Japão. As belíssimas ilustrações deste grande artista se casam perfeitamente com o texto enérgico e profundo do grande Samurai.

Gorin No Sho - Livro dos Cinco AnéisMiyamoto Musashi

Revisão e Introdução: Sensei Jorge Kishikawa Kendoonline Livros 377 pgsTradução: Dirce MiyamuraEditora Conrad, Brasil, 2006



Estátua de Miyamoto Musashi Sensei em Kumamoto.

Miyamoto Musashi / 宮本武蔵

A Vida de Miyamoto Musashi


Conhecido como Kensei, o Santo da Espada, Miyamoto Musashi dedicou sua vida a alcançar a perfeição através da arte da espada. Lutou e venceu mais de 60 duelos de vida ou morte, e nunca foi derrotado. Travou contato com outras formas de arte, como pintura, escultura, caligrafia e poesia, além da meditação Zen e o Budismo. Deixou seu estilo de luta, um grande legado de obras de arte e o mais importante tratado de estratégia do Japão, O Livro dos Cinco Anéis (Gorin no Sho).

Infância e Juventude

Musashi Sensei, ou Shinmen Musashi-no-Kami Fujiwara no Genshin, como se apresenta na introdução de O Livro dos Cinco Anéis, nasceu na província de Harima durante um dos mais conturbados períodos da história do Japão, quando aconteceram as últimas grandes batalhas da época dos Samurais.

Na época, era comum no Japão uma mesma pessoa mudar seu nome em diferentes fases da vida. Na infância, Musashi Sensei era chamado de Shinmen Bennosuke. Acredita-se que recebeu as primeiras instruções de Kenjutsu de seu pai, Shinmen Hirata Munisai.

Como relata em O Livro dos Cinco Anéis, seu primeiro duelo aconteceu quando tinha apenas 13 anos. Aos 16 anos venceu outro guerreiro habilidoso, chamado Tadashima Akiyama.

A batalha de Sekigahara e os duelos em Kyoto

Em 1600, aconteceu a batalha de Sekigahara que definiu os rumos do Japão pelos próximos três séculos. Foi a partir desta batalha que Tokugawa Ieyasu ascendeu ao poder, tornando-se shogun, e teve início o período Edo (1603-1868). Nos caóticos primeiros anos do Período Edo, Musashi Sensei viveu sua juventude. Acredita-se que na batalha de Sekigahara lutou no lado derrotado como um partidário de Ukita Hideie. Mesmo assim, conseguir sobreviver ao confronto e à posterior caça aos derrotados.

Em 1604, aos 21 anos, Musashi Sensei ressurge em Kyoto e sua fama se espalha pelo Japão ao vencer três duelos contra a importante família Yoshioka que, décadas antes, tinha sido instrutora de Kenjutsu do antigo shogun Ashikaga.

Foram três duelos. Nos dois primeiros enfrentou os chamados "irmãos kenpo", Seijuro e Denchijiro. Após vencê-los, os partidários dos Yoshioka já não viam mais Musashi Sensei como um oponente, mas como uma ameaça. Queriam vingança, e para isto armaram um terceiro embate contra Matashichiro, filho de Seijuro, um garoto de 13 anos. Matashichiro contaria com a ajuda dos demais alunos da escola. Relatos falam do embate de Musashi Sensei contra 60 oponentes armados com espadas, lanças, arco e flecha e até mosquetes.

Musashi Sensei abateu Matashichiro e todos os alunos da academia Yoshioka que se colocaram em seu caminho. Este foi o fim da, uma vez orgulhosa, academia Yoshioka e o início da lenda de Miyamoto Musashi.

Peregrinação Guerreira

Nos anos seguintes, Musashi Sensei continuou viajando pelo Japão em Musha Shugyo, ou seja, peregrinação guerreira em busca de embates. Confrontou muitos desafiantes, principalmente depois que sua fama se espalhou pela vitória arrasadora sobre os Yoshioka. Dentre os duelos mais importantes desta época se destacam:
Monges guerreiros do templo Hozoin, famosos por seu estilo de Sojutsu (ou Yarijutsu - técnica de luta com lança);

Muso Gonnosuke, fundador do estilo de Jojutsu (técnica com bastão) Shindo Muso Ryu, também praticado no Instituto Niten. Gonnosuke criou o Jojutsu depois de perder o primeiro embate contra Musashi Sensei, como uma possível forma de vencê-lo. Existe um relato sobre uma possível segunda luta entre os dois, onde Gonnosuke teria empatado com Musashi Sensei, sem nenhum dos dois se declarando vencedor;

Shishido Baiken, um especialista na kusarigama, a foice com corrente. É uma arma exótica e de uso difícil, que também é praticada em alguns dos estilos ensinados no Instituto Niten.

O Duelo contra Sasaki Kojiro

Monumento ao duelo dos dois grandes samurais na ilha de Funajima



O mais famoso e importante duelo de Musashi Sensei aconteceu em 1612, quando enfrentou Sasaki Kojiro, fundador do estilo Ganryu e conhecido como um dos mais habilidosos samurais de todos os tempos. Diferentemente de Musashi Sensei, que vinha desenvolvendo seu próprio estilo a partir de suas experiências de combate, Kojiro vinha de uma notória e famosa linhagem. Estudou a espada com um famoso mestre da época, Toda Seigen, do Chujo Ryu e com Kanemaki Jisai, seu discípulo. Jisai foi o mestre do famoso Itto Itosai, fundador do Itto Ryu, um dos estilos mais importantes da época.

Na época do duelo, Kojiro era instrutor de Hosokawa Tadaoki, um importante senhor feudal. Musashi Sensei conseguiu permissão para duelar com Kojiro através de Nagaoka Sado, um antigo amigo de sua família que era conselheiro do senhor Hosokawa.
O duelo aconteceu na ilha de Funajima. A estratégia de Musashi Sensei para esse duelo foi deixar o oponente esperando. Duas horas depois do combinado para o duelo, ele partiu em um bote. Musashi Sensei sabia que Kojiro utilizava uma espada extralonga e fazia uso da distância que conseguia impor com essa arma. Para anular essa vantagem, Musashi Sensei fez uma longa espada de madeira utilizando um remo quebrado. O embate foi rápido porém intenso. Ambos atacaram simultaneamente. O golpe de Musashi Sensei sobre o crânio de Kojiro com a pesada espada-remo foi certeiro. Conta-se que o golpe de Kojiro chegou a cortar o lenço que Musashi Sensei usava amarrado na cabeça e fez um corte superficial em sua testa. Mesmo após cair, Kojiro tentou ainda um segundo golpe, visando as pernas de Musashi Sensei, que saltou para evitar o golpe e acertou Kojiro com força nas costelas, matando então seu oponente. Assim, segundo relatos, se deu o possível duelo mais célebre entre samurais.

Nesta época, Musashi Sensei estava se aproximando da idade de 30 anos. O duelo contra Kojiro teve um grande efeito sobre Musashi Sensei. Conforme contou em sua obra, o Livro dos Cinco Anéis (Gorin No Sho), refletiu sobre as vitórias que alcançara até então, mas não conseguiu descobrir por que vencera tantos duelos. Teria sido sua aptidão física? Ou a falta de preparo de seus adversários? Ou talvez a vontade divina?

Foi essa reflexão que influenciou o restante da vida de Musashi Sensei. Dedicou-se, então, em deixar para as gerações futuras seu legado por meio de seu estilo, que chamou de Niten Ichi Ryu.

Foi a partir desta época que entrou em contato também com outras manifestações artísticas, como pintura, escultura, poesia e até mesmo arquitetura.

Amadurecimento

Auto-retrato de Musashi Sensei mostrando postura com duas espadas

Em 1621, Musashi Sensei teve um duelo famoso, não pelo renome do oponente,Auto-retrato de Musashi Sensei mostrando postura com duas espadas mas por este ser o primeiro registro oficial de um duelo em que utilizou a técnica de duas espadas que até hoje caracteriza o Hyoho Niten Ichi Ryu. Miyaki Gunbei seu oponente, atacou Musashi Sensei repetidas vezes, tendo sua espada bloqueada a cada ataque. Deseperado, Gunbei desferiu uma estocada, que foi bloqueada pela espada curta de Musashi Sensei, ao mesmo tempo que a espada longa desferia um ataque ao rosto de Gunbei. Reconhecendo a derrota, Gunbei pediu desculpas por ter desafiado Musashi Sensei e pediu para se tornar seu discípulo.

Musashi Sensei nunca se casou, mas adotou dois filhos, Mikinosuke e Iori. Ambos se tornaram vassalos de importantes senhores feudais.

Musashi sensei não era visto como um simples ronin. Era considerado um mestre no Caminho e uma pessoa de grande sensibilidade e sabedoria, um conselheiro a ser escutado e um mestre a ser seguido. Era convidado freqüentemente para ficar em importantes feudos e tinha em seu círculo interno importantes personalidades, como o monge Takuan Soho (conselheiro do Shogun Tokugawa), Honami Koetsu (importante artista do movimento chamado "renascença de Kyoto") e dos senhores feudais Ogasawara Tadazane e Hosokawa Tadatoshi. Com este último em especial, Musashi Sensei desenvolveu uma amizade muito profunda.

Musashi Sensei conta no Livro dos Cinco Anéis que aos 50 anos finalmente alcançou a compreensão total da estratégia. O nível de compreensão alcançado no Caminho foi tão profundo que, conforme suas palavras, foi capaz de perceber o Caminho em tudo. Podemos constatar isto vendo as obras de arte que deixou. Algumas de suas obras de pintura, escultura e caligrafia chegaram até nossos dias. Ao alcançar a perfeição técnica na espada, alcançou também a perfeição nesses Caminhos.

Os últimos anos do grande mestre

O maior legado que deixou para as futuras gerações foi seu estilo, o Hyoho Niten Ichi Ryu, resultado de sua experiência no combate e profunda percepção da vida que conseguiu. Em nossa linhagem, o estilo é praticado da mesma maneira de Musashi Sensei idealizou.

A gruta de ReigandoMusashi Sensei passou seus últimos anos em Kumamoto, como hóspede de seu amigo, Hosokawa Tadatoshi. A pedido deste, deixou registrado seu estilo e seu modo de pensar na obra “35 artigos na arte do kenjutsu”. Em Kumamoto ensinou o Hyoho Niten Ichi Ryu para seus discípulos e se dedicou ao estudo do budismo, à meditação e ao desenvolvimento artístico.

No final de sua vida Musashi Sensei se isolou na caverna de Reigando, onde se dedicou à meditação e à prática ininterrupta de seu estilo. Lá escreveu O livro Dos Cinco Anéis, deixando os ensinamentos de seu estilo ao discípulo Terao Magonojo.

Musashi Sensei faleceu no dia 19 dia de maio de 1645. A seu pedido foi enterrado com a armadura completa na vila de Yuji, próximo à montanha de Iwato. Conta-se que durante seu funeral um forte trovão se fez ouvir dos céus, como se estes dessem as boas-vindas ao poderoso guerreiro.

"Senki" - Espírito de luta, escrito por Miyamoto Musashi Sensei

Bibliografia:

- O Livro dos Cinco Anéis, de Miyamoto Musashi
Apresentação Shihan Gosho Motoharu, introdução e revisão Sensei Jorge Kishikawa
Editora Conrad, 2006

- O Samurai, a história de Miyamoto Musashi
William Scott Wilson
Editora Estação Liberdade, 2007

Ficção:
- Musashi, de Eiji Yoshikawa
Conhecido como o "E o Vento Levou..." do Japão, este épico de quase 2.000 páginas popularizou a história de Musashi sensei na era moderna.

- Vagabond, de Takehiro Inoue
Vagabond é a premiada adaptação da história de Miyamoto Musashi Sensei para os mangás, pelo famoso artista Takehiro Inoue.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Samurai / 侍


Samurai ( 侍 ) era um termo para a nobreza militar da pré-industrial do Japão. Em outras palavras, eram guerreiros japoneses que defendiam os Daymio (senhores feudais). A palavra “samurai” é derivada do japonês arcaico, do verbo “samorau”, alterado para “saburau”, que significa “servir” ou “aquele que serve”. Foi entre os séculos XII e XIV que ganharam grande importância e prestigio na sociedade, sendo referidos como mártires..

Os samurais tinham que seguir um código chamado Bushidô, conduta e ética muito rígida. Bushidô significa ” caminho do guerreiro e de acordo com o código, os samurais deveriam ser leais, resistentes, corajosos e disciplinados. O Bushidô ensina que a katana (espada japonesa) não é simplesmente uma arma. Ela significava a alma e o símbolo máximo dos samurais. Estes se preparavam desde a infância, recebendo treinamentos dos mestres mais experientes. Leia mais sobre Bushidô aqui!


Genbuku (元 服), eram dados à criança sua primeira espada e armadura de verdade.

Ganhava também um nome de adulto e tornava-se de fato um samurai. A katana e um wakizashi juntos são chamados de daisho (literalmente “grande e pequeno”) e significavam a “honra” de um samurai e quase uma extensão de si mesmos. Desta forma, eles jamais se separavam dessas armas, dormindo inclusive com elas debaixo do travesseiro.

Wakizashi e katana são as armas tradicionais dos samurais
O samurai também aperfeiçoou a habilidade com o yumi (arco), refletida na arte de kyujutsu. O yumi era um arco assimétrico feito de bambu, vime, madeira e couro e tinha um alcance efetivo de 50 metros a 100 metros, sendo usado também à partir de um cavalo, que acabou tornando-se um esporte chamado Yabusame (流 镝 马).

Nos séculos XV e XVI, muitos samurais utilizaram as experiências militares e as qualidades adquiridas para se dedicarem à administração de negócios nas áreas de comércio e agricultura. No século XIX, com a restauração imperial (dinastia Meiji), ocorreu o fim do feudalismo no Japão. Os samurais foram perdendo prestígio e força. Em 1870, ocorreu uma revolta de samurais, porém foi fortemente reprimida pelo exército imperial do Japão.

Yabusame, esporte medieval japonês

Harakiri e Sepukku, a morte pela honra:

O Harakiri faz parte dos ensinamentos do Bushidô, o código dos guerreiros samurais, que dentre os principais ensinamentos estão a Honra, lealdade e bravura. Significa literalmente “cortar a barriga” ou “cortar o estômago” e consistia em ajoelhar-se e cravar um punhal ou wakizashi, em sua própria barriga em um ritual suicida, caso desonrassem a si próprio ou ao seus ancestrais. O ideal é que as vísceras ficassem expostas para mostrar sua pureza de caráter e no fim puxar a lâmina para cima, fazendo assim um corte em cruz.

A morte era lenta e dolorosa e não muito raro acontecia do guerreiro permanecer vivo por horas ou mesmo dias, esvaindo-se em sangue e ao mesmo tempo sentindo uma dor indescritível.

O ritual chamado formalmente de Sepukku e era assistida por outras pessoas, que serviriam de testemunhas. O samurai não podia demonstrar dor ou medo e sim mostrar total auto-controle para as pessoas que o assistiam.

Antes do suicídio propriamente dito, os samurais sempre seguiam o mesmo ritual: Banhava-se para purificar seu corpo e a sua alma. A seguir vestia a roupa específica do seppuku, totalmente branca, tomava uma xícara de saquê, sempre em dois goles, e a seguir escrevia um ou dois poemas de despedida.

O grande lema dos samurais era que a vida é limitada, mas o nome e a honra podem durar para sempre. Por causa disso, esses guerreiros prezavam a honra, a imagem pública e o nome de seus ancestrais acima de tudo, até da própria vida. Era uma forma perpetuar a sua existência. Essa filosofia persiste até hoje e por causa disso o Japão é uma das nações com maior índice de suicídios no mundo.

Ritual do seppuku, suicídio pela honra
Morte no Campo de batalha:

No campo de batalha, os samurais decapitavam seus adversários e a cabeça do derrotado era como um troféu e levados aos senhores feudais, os daymio. Os Samurais que matavam grandes generais geralmente eram recompensados com terras e privilégios. Geralmente, nós do ocidente avaliamos os samurais como pessoas rudes e grosseiros, sem levar em conta as inúmeras outras habilidades que esses guerreiros tinham.

Dentre as habilidades dos samurais, destaca-se o amor pela arte, de todas as formas possíveis. Além da prática da arte do esgrima, muitos eram exímios poetas, calígrafos, pintores e escultores. Algumas formas de arte como o Ikebana (arte dos arranjos florais) e a Chanoyu (arte do chá) eram também consideradas artes marciais, pois treinavam a mente e as mãos do samurai.

Esses guerreiros levavam em conta também seu lado espiritual, praticando o o Zen-budismo, como uma forma de descobrir um caminho que conduzisse à calma e à harmonia. Além disso, eles davam muito valor à família e era comum fazerem justiças com suas próprias mãos, caso algum ente querido fosse assassinado, afim de restabelecer a honra da família.


Honra. Justiça. Perfeição. Lealdade. Estas são algumas das palavras associadas aos Samurais, a classe guerreira do Japão feudal e até hoje, sua influência é sentida no modo de viver e de pensar do povo japonês.


Os samurais surgiram, como classe guerreira, na época feudal do Japão e dominaram o país por quase oito séculos (século VIII ao XIX). Ser um samurai era um prestígio social, uma vez que a classe guerreira ocupava os mais altos cargos dentro da ditadura militar nipônica, chamada de Xogunato ou Bakufu.

Inicialmente, a função do samurai era apenas coletar impostos e servir ao Império. A partir do século X, a figura do samurai toma forma e ganha uma série de funções militares, alcançando seu ápice no século XVII.

Os estilos marciais criados pelos Samurais hoje são chamados de Kobudô (古武道).. Era por meio da prática destes estilos que o samurai aperfeiçoava suas técnicas, fortalecia seu espírito e visava seu aprimoramento, com a auto-disciplina e o auto-controle. Mas o que tornou esse guerreiro único foi o seu famoso código de honra e conduta, o Bushidô. Além da filosofia assimilada pelos samurais, o Bushidô trazia preceitos para o comportamento correto diante de todas as situações.


*Samurai (kanji: 侍) significa literalmente "aquele que serve", herança de quando eram subordinados diretamente ao imperador. Outro termo muito usado para se referir aos samurais é Bushi (武士), que significa literalmente "guerreiro". É a raiz da palavra Bushido (武士道), ou "Caminho do Guerreiro".


Os últimos Samurais:


Em 1868, com a Restauração Meiji, a classe samurai foi abolida e estabeleceu-se um exército nacional ao estilo ocidental. Mesmo com essas reformas, o samurai não deixou morrer a sua tradição. As artes com a espada criadas na época feudal foram cultivadas e passadas de geração em geração até os dias atuais. E o Bushidô sobreviveu em sua forma mais pura dentro dos dojos de Kobudô.

Atualmente as artes dos antigos samurais são praticadas com o objetivo de ajudar as pessoas a superar obstáculos no seu dia-a-dia e adquirir tranqüilidade, controle, disciplina e auto-confiança.

Os Samurais Modernos são, portanto, pessoas que aplicam a filosofia do Bushidô nos dias de hoje e praticam as artes da espada, mantendo viva uma tradição de 800 anos.

Grande abraço!

Oss! ^^

Bushidô / 武士道


O que é Bushidô / 武士道?

O Bushido (Bushi = Guerreiro, Dô = Caminho), o código de honra e ética do guerreiro samurai, despertou o interesse de muita gente, em 2004, sobretudo, com o lançamento do filme "O Último Samurai" que mostra o astro Tom Cruise no papel de um militar americano cuja vida muda ao conhecer os samurais e o Bushidô, inclusive, recomendo muito o filme!

O Bushido surgiu e se consolidou juntamente com a história dos samurais, durante os períodos Heian a Tokugawa. As principais virtudes do Bushidô são: Justiça (GI), Coragem (YUU), Benevolência (JIN), Educação (REI), Sinceridade (MAKOTO), Honra (MEIYO) e Lealdade (CHUUGI). É natural, em um tempo e sociedade tão carentes de valores como estes no qual vivemos, que o Bushido chame a atenção. Seus valores atemporais trazem uma clara noção entre certo e errado, acrescentando mais importância e ideal à vida das pessoas.

BUSHIDO (武士道; 武士 = Guerreiro, 道 = Caminho): "O Caminho do Guerreiro" era o código de honra e ética dos samurais.

Sua origem está ligada fundamentalmente ao Budismo, ao Xintoísmo e ao Confucionismo. Do Budismo, o Bushido herdou a coragem ao se encarar a morte e o desapego pelas questões materiais. Do Confucionismo vem a lealdade ao senhor feudal, a relação com a sociedade e a importância do nome da família. Dentro do Bushido, as linhas gerais que regem as mais variadas relações entre as pessoas, por exemplo, Mestre e Discípulo, Sempai e Kohai, pai e filho, irmão mais velho e mais novo, marido e mulher também possuem raízes no Confucionismo. Do Xintoísmo trouxe o respeito para com a terra, com o feudo e a estima pela essência, o espírito, que há em tudo, desde as pessoas aos lugares, as espadas e os demais utensílios dos samurais. Para o Samurai era preferível a morte à desonra. A desonra era uma mancha que marcava toda a família. Esta era uma vergonha que nenhum samurai conseguia suportar.

O Bushido Hoje:
Dois séculos após o fim dos samurais como classe social, o Bushidô permanece vivo na cultura japonesa. Isto se deve aos nove séculos em que o Japão teve nestes valores a base para todas as relações humanas.

O prejuízo causado à população japonesa após a Segunda Guerra Mundial foi incrivelmente superado em pouco tempo. O país passou de nação derrotada a potência mundial em apenas 30 anos. Essa recuperação foi diretamente influenciada pelo Bushidô.

Apesar destes valores estarem hoje atenuados na sociedade japonesa e muitas das novas gerações acreditarem que são valores pertencentes ao passado, há lugares onde o Bushidô mantém sua forma próxima à original. Estes lugares são os tradicionais dojos de Kobudô. Nestes dojos sobrevivem, de fato, os últimos samurais. Pessoas que cultivam, em pleno século XXI, o modo de vida dos guerreiros que fizeram da honra e da ética os instrumentos para governar uma nação.

Os 7 Princípios do Bushidô:

O Bushidô (武士道) ou “Caminho do Guerreiro” é uma espécie de código de conduta que era levada muito a sério pelos samurais. Se trata de regras baseadas em princípios morais na qual o guerreiro samurai tinha o dever de segui-las a todo custo, não só no campo de batalha como também em sua vida diária.

Embora a maioria dos samurais seguissem o Código de Conduta Bushido, havia aqueles que não respeitavam os princípios básicos e com isso traziam desonra e má reputação sobre ele e sua família. Um samurai sem honra era uma coisa imperdoável e a única forma de lavar a sua honra era através do Harakiri (Ritual de Suicídio).


O Código de Conduta Bushidô foi formado e influenciado pelos conceitos do Budismo, Xintoísmo e Confucionismo. E o mais interessante é que apesar desse conceito ser muito antigo, ele ainda é válido para os dias de hoje e pode ser útil para todas as pessoas do planeta. Incorporando esses princípios no nosso dia a dia, podemos nos tornar com certeza “seres humanos” melhores! 

Conheça os 7 Princípios do Bushidô:

1. 義 Gi – Justiça, Retidão e Honestidade:
Seja honesto em todas as suas relações. Acredite na Justiça, não a que é dada pelos outros, e sim na sua própria justiça. Para um autêntico samurai não existem tons de cinza em relação à honestidade e justiça. Só existe o certo e o errado. E pra ser justo é necessário fazer o julgamento correto em relação à tudo em sua vida.

2. 勇 Yuu – Coragem, Bravura heroica:
Um samurai deve ter coragem heroica. Viver é arriscado e perigoso e esconder-se como uma tartaruga se esconde em sua concha não é a maneira mais adequada de viver. Devemos aprender a viver a vida ao máximo, intensamente. Substitua o medo pelo respeito e cautela. A coragem heroica não é cega, ela é inteligente e forte.

3. 仁 Jin – Compaixão, Benevolência:
Através de um treinamento intenso o samurai torna-se rápido e forte, porém ele usa essas habilidades para fazer o bem para as pessoas e tem compaixão por elas. Amor, amizade, solidariedade e nobreza de sentimentos são considerados como os maiores atributos da alma. Ajude seus colegas em todas as oportunidades que houver.

4. 礼 Rei – Respeito, Polidez e Cortesia:
O Samurai não tem nenhuma razão para ser cruel. Não há necessidade de provar a sua força. Um samurai é cortês até mesmo para com os seus inimigos. Se não fosse assim, ele não seria melhor do que qualquer animal. Um samurai é respeitado não só por sua coragem, mas também pela forma como eles tratam os outros.

5. 诚 Makoto – Honestidade, sinceridade absoluta:
Mentir é um ato considerado covarde e desonroso e portanto quando um samurai diz que vai fazer tal coisa, é como se ele já tivesse feito. Nada no mundo conseguirá impedi-lo de concretizar o que disse. Um samurai não precisa dar a sua palavra e nem precisa prometer nada. Quando um samurai fala, é porque ele vai agir.

6. 名誉 Meiyo – Honra, Glória:
O verdadeiro samurai só tem um juiz de sua honra, e este juiz é ele mesmo. As escolhas que você faz e como você trabalha para obtê-las são um reflexo de quem você realmente é. Você não pode se esconder de si mesmo. Muitas das nossas decisões são influenciadas pelos outros, o que nos faz parecer hipócritas.

Dizemos muitas vezes o que os outros querem que digamos, vemos o que os outros querem que vejamos. Ouvimos o que os outros querem que ouçamos. O valor da nossa dignidade pessoal está implícito na palavra honra. “Desonra é como uma cicatriz em uma árvore que o tempo, em vez de curar, só ajuda a aumentar.”

7. 忠 Chuu – Dever e Lealdade:
Um samurai é extremamente leal àqueles que estão sob seus cuidados. Por quem ele é responsável, ele permanece fiel. Suas palavras e suas ações pertencem à você, assim como todas as consequências que se seguem a partir delas. “A palavra de um homem deve ser como sua impressão digital: Você deve levá-la aonde quer que vá”.

Seguir o Bushidô é dar ênfase à lealdade, fidelidade, coragem, justiça, educação, humildade, compaixão, honra e acima de tudo, viver e morrer com dignidade”. Quando aplicamos esses princípios em nossa vida conseguimos melhorar nosso potencial humano. Pra finalizar, uma frase do samurai Miyamoto Musashi: “A vida de alguém é limitada, porém a honra e o respeito duram para sempre”.

Grande abraço!

Oss! ^^

Budô / 武道


O que significa Budô / 武道?

Formado pelos ideogramas "武" (Bu / Marcial) e "道" (Dô / Caminho) "Caminho Marcial", essa filosofia tem forte influência no Zen Budismo e pode-se dizer que Budô vai muito além das lutas nos Tatami. Budô é a chave principal para um Budoka (praticante de artes marciais); é onde encontramos a essência e o verdadeiro valor que uma arte marcial tem em si. Budô é compreendido como a relação entre a ética e a cultura japonesa. Não desanimar diante das adversidades, mas sim aprender com os desafios, ser disciplinado e respeitar o oponente são alguns dos ensinamentos do Budô.


História:

O Budô foi uma derivação do antigo bujutsu, conjunto de disciplinas que eram colocadas em prática nas batalhas durante o período Sengoku-jidai, que durou cerca de 150 anos, entre a metade do século 15 e início do século 17. “No Sengoku-jidai, os samurais lutavam por sobrevivência.

Ao contrário do conturbado período de guerras do Sengoku-jidai, o período Edo (1603 - 1867), também conhecido como Período Tokugawa, foi marcado pela paz no arquipélago. Com o fim das guerras, as técnicas de lutas que os guerreiros travavam foram ensinadas às pessoas comuns. Criou-se, então, um código oral em que o “espírito da esgrima” (ken-no-kokoro), considerado a base do Bushidô (caminho do samurai), foi transmitido para os praticantes. E como não havia um inimigo, as lutas ganharam características de competição. Para que o caráter competitivo não tomasse conta dos treinamentos, o Budô foi introduzido para ser o caminho espiritual por meio do qual o praticante das lutas de artes marciais atingiria a iluminação. 

Pode-se então dizer que os objetivos do Budô estão intimamente ligados ao objetivo definitivo da filosofia Zen, que consiste na eliminação do ego, dos preconceitos e ilusões criadas pela mente humana, apegada aos prazeres da Terra.

Durante o Período Edo, surgiram centenas de escolas e modalidades de bujutsu (práticas de combate) com diferentes técnicas, definições e métodos. Essas novas lutas se caracterizaram nas atuais artes marciais japonesas que tem como fonte principal o Budô.

Quem bebeu dessa fonte e se tornou um dos símbolos do ideal budoka foi o samurai Miyamoto Musashi. Depois de muitas lutas vencidas, o guerreiro percebeu que o objetivo das artes marciais ia além da técnica e da aniquilação do adversário. É, então que ele entende a filosofia do Budô.

Assim como a técnica requer prática, para um budoka atingir suas metas, ele precisa praticar incessantemente as premissas do Budô. Aliada à prática, o estudo teórico também é importante para atingir a serenidade diante das situações complicadas da vida.

O que um Guerreiro deve seguir?:

A fim de conservar os princípios básicos do Budô, a Associação Japonesa de Budô decidiu escrever, em 1987, uma Carta do Budô, em que estabelece alguns ‘mandamentos’ para a prática:

1. Por meio do treino mental e físico é possível formar o caráter do budoka, de modo a tornar um indivíduo disciplinado e de bem;

2. Agir com cortesia e respeito durante o treino e desenvolver o equilíbrio entre o corpo, a mente e a técnica. Evitar a tentação de perseguir apenas a técnica de luta corporal;

3. Ter a humildade e autocontrole durante uma competição ou formas definidas de combate (kata);

4. Demonstrar respeito e cortesia no dojô;

5. Os professores devem encorajar a evolução dos seus alunos e não devem dar ênfase somente às competições ou habilidade técnica;

6. As pessoas que promovem o Budô devem ter mente aberta para compreender os valores tradicionais japoneses. Elas devem desenvolver pesquisas e metodologias de ensino para a sua divulgação;

7. Não importa quão rápido seja o movimento, este deve emanar de uma essência calma e silenciosa;

8. A adversidade não faz esmorecer um praticante do budô, ajuda-o a florescer;

O que um Guerreiro deve evitar?:

- Insolência;
- Confiança excessiva;
- Ganância;
- Raiva;
- Medo;
- Dúvida;
- Suspeita;
- Hesitação;
- Desprezo;
- Vaidade.

Os dez males aos quais um budoka não deve se entregar, segundo um manuscrito da Escola de Kashima Shin (retirado do livro Segredos do Budô, organizado por John Stevens. Editora Cultrix, 11ª edição)


Budô na Educação Japonesa:


A meca do Budô é o Nippon Budokan, entidade que congrega todas as artes marciais do Japão e fica localizada no atual parque de Kitanomaru, onde se localizava o castelo de Edo. Inaugurado em 1964, a obra foi construída a partir da contribuição do governo e do povo japonês e tinha como objetivo primordial ser um local de competições e de ensino do Budô.

Atualmente, uma das maiores preocupações dos mestres é a conservação dos verdadeiros princípios do Budô. A partir de 2012, a filosofia será introduzida na disciplina de educação física do curso ginasial como matéria obrigatória, mas até lá os principais mestres japoneses querem viajar o mundo todo para divulgar o “caminho espiritual” e não deixar com que as artes marciais resumam-se apenas à prática competitiva.

Tipos de Artes Marciais no Japão (Budô):



Entre as Artes Marciais Japonesas mais conhecidas e difundidas no Brasil estão o Karatê, Judô, Aikidô, Kendô, Sumô, Ninjutsu, Shorinji Kempo, Jujitsu. Cada uma dessas artes tem seu próprio estilo, com diferenças significativas no que se refere a filosofia, métodos e utilização de ferramentas de treinamento.

1. Karatê-Dô:
karatê
O Karatê (空手) também chamado de Karatê-Do (空手道) significa literalmente “mãos vazias” ou “caminho das mãos vazias”. Esta arte marcial nasceu em Okinawa, anteriormente conhecido como reino de Ryukyu. Trata-se de uma fusão de vários estilos pré-existentes de artes marciais da região de Okinawa.

O precursor do Karatê no Japão foi Gichin Funakoshi, considerado o “Pai do Karatê Moderno” e também fundador do Shotokan-Ry Karatê-Dô. Foi através dele que o Karatê passou a ser disseminado em 1917 e incorporado na rede pública de ensino do Japão. O Karatê enfatiza especialmente as técnicas “atemi waza” (defesas, socos e chutes).

Além da força física, a prática do Karatê segue a filosofia do zen budismo e enfatiza o equilíbrio entre o corpo e a mente, contribuindo para a disciplina e auto-confiança dos praticantes de Karatê, que são chamados de Karateca. Segundo a Federação Mundial de Karatê, existem 100 milhões de praticantes em todo o mundo.


2. Judô:


O Judô (柔道) significa literalmente “caminho suave” ou “caminho da suavidade”. Foi criado por Jigoro Kano no final do século 19 e rapidamente disseminou-se por todo o planeta, onde foram fundadas escolas “Kodokan“. Jigoro Kano é considerado um dos mais brilhantes mestres das artes marciais de todos os tempos.

A disseminação mundial do judô tem levado ao desenvolvimento de uma série de ramificações, como Sambo e o Jiu-Jitsu Brasileiro. Além de desenvolver habilidades físicas e técnicas de defesa pessoal, o judô dá enfase no auto-aperfeiçoamento pessoal, espiritual e moral de seus praticantes (judocas).

3. Kendô:



O Kendô (剣道) significa literalmente “caminho da espada”. É uma arte marcial caracterizada no combate com a espada japonesa. Trata-se de uma evolução da arte do kenjutsu e seus exercícios e prática se originaram a partir de escolas de esgrima, em especial a escola kenjutsu Itto-ryu, fundada no século 16.

A introdução de espadas de bambu (shinai) e armadura (Bogu) na prática do Kendo é atribuída ao japonês Naganuma Shirōzaemon Kunisato, durante o Período Shotoku (1711-1715). Desta forma a prática de Kendo tornou-se mais ágil e versátil e ao mesmo tempo segura por não oferecer riscos de lesões aos oponentes.

O Kendo é uma atividade física e mentalmente desafiante que combina artes marciais e princípios importantes como disciplina, retidão de caráter, além do equilíbrio entre o corpo, espírito e a mente. Segundo a Federação Japonesa de Kendo, existem 6 milhões de praticantes de Kendo (Kendocas) em todo o mundo.

4. Aikidô:


O Aikidô (合气道) significa literalmente “caminho da harmonia da energia”. Trata-se de uma arte marcial japonesa desenvolvida por Morihei Ueshiba na década de 1920. A arte consiste em técnicas “impressionantes” de auto defesa e também dá ênfase ao desenvolvimento espiritual e filosófico de seus praticantes (Aikidocas).

Segundo Morihei Ueshiba, o Aikido é uma arte marcial moderna que não busca lutas nem competições e por isso é chamada como a Arte da Paz. Esta arte também tem o objetivo de promover valores como amor e compaixão e redirecionar o ataque de um inimigo de uma forma que ambos saiam ilesos. Não é a toa que Ueshiba Sensei é reverenciado por estudantes de aikido como “O Sensei” (Grande Mestre).

5. Sumô:



O Sumô (相扑) é considerado o esporte nacional do Japão e tem suas origens em um passado distante, a partir do século 8 dC, segundo registros históricos. A partir de 728 dC, o imperador Shōmu Tennō passou a realizar jogos oficiais de sumo em festivais anuais de colheita, se estendendo mais tarde em festivais xintoístas.

Com o tempo, o treinamento de sumô acabou sendo incorporado ao treinamento militar. Atualmente, seis grandes torneios são realizados todos os anos no Japão. Os torneios contam com a presença de um sacerdote xintoísta, além de ser repleto de rituais como bater palmas, bater os pés, e jogar sal no ringue antes de cada luta.

Os concorrentes utilizam técnicas para levar o oponente ao chão. Aquele que tocar o chão primeiro com qualquer parte do corpo (Exceto a parte inferior dos pés), perde a luta. Em 1998 foi criada a Confederação Brasileira de Sumo, sendo que o Brasil sediou o primeiro Campeonato Mundial de sumô disputado fora do Japão em 2000.

6. Ninjutsu:



O Ninjutsu (忍术) significa literalmente “Técnica da Espionagem”. Também é conhecido como Ninjitsu, Ninpo e Shinobi-jutsu.

Trata-se de uma arte marcial que nasceu na província de Iga (Mie) e Kōka (Shiga) e reúne estratégias e táticas de guerra não convencionais, além da arte da espionagem supostamente praticada pelo shinobi (vulgarmente conhecido fora do Japão como ninja).


O Ninjutsu é uma prática existente há mais de 2 mil anos e para muitos, este estilo está mais para uma arte de truques, do que arte marcial em si.

Durante o regime feudal, o shinobi (ninja) era conhecido por suas habilidades de disfarce, espionagem, fugas, assassinatos, explosivos, entre outros.

O Ninja seguia um código de conduta chamado Ninpoh Ikkan, diferente dos Samurais, que seguiam o Bushido.

Hoje em dia, o ninjutsu é usado mais como defesa pessoal. As técnicas ninjas são também utilizadas por exércitos de alguns países, como forma de aperfeiçoar as técnicas de auto-defesa, imobilização e agilidade em desarmamento. Mesmo não sendo um esporte e nem havendo competições, o Ninjutsu ainda sobrevive através dos milhares de praticantes espalhados pelo mundo todo, inclusive no Brasil.

7. Jujitsu ou Jiu-Jitsu:



O Jujitsu (柔术) significa literalmente como “técnica suave” e sua principal característica é o não uso de armas. Trata-se de um conjunto de técnicas que se caracteriza por golpes de alavancas, torções e pressões para derrubar e dominar um oponente, incluindo técnicas de agarramento, com golpes de controle (gyaku waza), submissão (katame waza) e golpes traumáticos (ate waza).

Hoje, jujitsu é praticada em muitas formas, antigas e modernas. Vários métodos de jujutsu foram incorporadas ou sintetizados em judô e aikido, além de ser exportado para o mundo todo. Esse estilo de arte marcial também está presente no Brazilian Jiu-Jitsu, uma arte marcial especializada em auto-defesa e luta no chão.

Sua origem pode ser rastreada até o início do século 20, quando o judoca Mitsuyo Maeda emigrou para o Brasil e ensinou técnicas de judô aos brasileiros Luiz França e Carlos Gracie. Podemos dizer que o Jiu-jitsu brasileiro combina várias técnicas de jujutsu, em especial o Judô, dando origem um novo estilo de luta marcial.

8. Shorinji Kempo:



O Shorinji Kempo (少林寺拳法) é uma arte marcial que surgiu depois da Segunda Guerra Mundial, em 1947 através do Mestre Doshin So, um japonês que havia que ficou exilado no norte da China durante a guerra. Ao retornar ao Japão, encontrou um país devastado pela guerra e uma nação desmotivada e pessimista.

Decidiu então fundar o Shorinji Kempo, uma arte marcial, cuja técnica possui algumas semelhanças com o Shaolin Kungfu (Arte Marcial Chinesa), mas que ao mesmo tempo ajuda a desenvolver a auto confiança, coragem, compaixão e sentimento de justiça em seus praticantes, através da filosofia budista.

Apesar da origem do Shorinji Kempo ser recente, esta arte tornou-se popular em muitos outros países, inclusive o Brasil. Segundo a Organização Mundial de Shorinji Kempo, existem mais de 1,5 milhões de praticantes em quase 40 países.

9. Kyudô:



O Kyūdō (弓道) significa literalmente “caminho do arco”. Trata-se de uma arte marcial onde se utiliza arco e flecha. Originalmente era chamado de Kyujutsu, sendo uma disciplina no treinamento dos samurais. No entanto, a partir do século 16, o arco e flecha perdeu seu significado como arma de guerra, e sob a influência religiosas, o Kyudo tornou-se um esporte refinado e contemplativo, como o Yabusame.

10. Sojutsu:



O Sojutsu (枪术) é a arte marcial japonesa em que se utiliza lança (yari). Também é chamada de yarijutsu e trata-se de uma técnica que foi muito difundida durante o Japão Medieval entre os combatentes de guerra. No Japão, ainda existem escolas que ensinam a arte, embora em menor escala em comparação com outras artes. O Jukendo é uma arte inspirada no Sojutsu, na qual utiliza a baioneta como arma.

Até mais!

Grande Abraço!

Oss! ^^

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Homenagem ao Sensei Hirokazu Kanazawa


É com uma imensa tristeza que confirmo depois de pesquisar várias fontes confiáveis que hoje,  segunda-feira (09.12.2019), Sensei Hirokazu Kazawa um dos maiores mestres e divulgador do Karatê-Dô Shotokan faleceu com 88 anos de idade, ainda não se sabe a causa da morte, mas acredito eu que sejam causas naturais. O Karatê-Dô está de luto!

Hirokazu Kanazawa Sensei

Clássica foto de seu Yoko-Tobi-Geri
Nascido em 1931 no Japão, começou a treinar Karate-Do, estilo Shotokan-Ryu, na Universidade de Takushoku (ou Takudai) recebendo orientações do mestre Masatoshi Nakayama e outros responsáveis pelo ensino na citada universidade; contemporâneo de outros notáveis instrutores como Tetsuhiko Asai, Keinosuke Enoeda e Hiroshi Shirai, rapidamente se tornou um dos mais técnicos de sua época. Kanazawa-Sensei é figura presente nas obras “O Melhor do Karate” e “Karate Dinâmico” de autoria do seu mestre Nakayama-Sensei, além de ter produzido suas próprias obras sobre Kata e Kumite, livros que se tornaram referências para sua organização SKIF; entre os mestres do Shotokan-Ryu, ele foi um dos primeiros a propor o que chamamos de “mente aberta”.


Já formado como Sensei no estilo Shotokan-Ryu, Hirokazu Kanazawa, procurou por mais informações sobre a origem e desenvolvimento do Karate-Do em Okinawa, trabalho e intercâmbio que proporcionaram visão mais profunda refletida na organização que criaria em 1977, a chamada SKIF – Shotokan Karate-Do International Federation; para muitos karatekas (incluindo eu) ele seria o sucessor de Masatoshi Nakayama, mas por questões políticas, acabou deixando a JKA e fundou a SKIF. Como praticante do estilo Goju-Ryu, não posso deixar de citar o fato de Kanazawa-Sensei ter mantido uma forte amizade com o mestre Morio Higaonna da IOGKF – International Okinawa Goju-Ryu Karate-Do Federation; digo que Kanazawa-Sensei foi um mestre a frente do seu tempo, pois já procurava compreender outros estilos de Karate e mesmo de outras artes marciais – Ainda hoje temos muitos karatekas com uma visão limitada e mente fechada, diferente de Kanazawa-Sensei. (Texto por Sensei Daniel em seu blog).

 

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É realmente uma grande perda para todos nós Karatecas, que seu legado continue firme e forte por seu filho Nobuaki Kanazawa! Mokusô! (Mãos em prece)!

Que ele descanse em paz!

Oss!