sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Budô / 武道


O que significa Budô / 武道?

Formado pelos ideogramas "武" (Bu / Marcial) e "道" (Dô / Caminho) "Caminho Marcial", essa filosofia tem forte influência no Zen Budismo e pode-se dizer que Budô vai muito além das lutas nos Tatami. Budô é a chave principal para um Budoka (praticante de artes marciais); é onde encontramos a essência e o verdadeiro valor que uma arte marcial tem em si. Budô é compreendido como a relação entre a ética e a cultura japonesa. Não desanimar diante das adversidades, mas sim aprender com os desafios, ser disciplinado e respeitar o oponente são alguns dos ensinamentos do Budô.


História:

O Budô foi uma derivação do antigo bujutsu, conjunto de disciplinas que eram colocadas em prática nas batalhas durante o período Sengoku-jidai, que durou cerca de 150 anos, entre a metade do século 15 e início do século 17. “No Sengoku-jidai, os samurais lutavam por sobrevivência.

Ao contrário do conturbado período de guerras do Sengoku-jidai, o período Edo (1603 - 1867), também conhecido como Período Tokugawa, foi marcado pela paz no arquipélago. Com o fim das guerras, as técnicas de lutas que os guerreiros travavam foram ensinadas às pessoas comuns. Criou-se, então, um código oral em que o “espírito da esgrima” (ken-no-kokoro), considerado a base do Bushidô (caminho do samurai), foi transmitido para os praticantes. E como não havia um inimigo, as lutas ganharam características de competição. Para que o caráter competitivo não tomasse conta dos treinamentos, o Budô foi introduzido para ser o caminho espiritual por meio do qual o praticante das lutas de artes marciais atingiria a iluminação. 

Pode-se então dizer que os objetivos do Budô estão intimamente ligados ao objetivo definitivo da filosofia Zen, que consiste na eliminação do ego, dos preconceitos e ilusões criadas pela mente humana, apegada aos prazeres da Terra.

Durante o Período Edo, surgiram centenas de escolas e modalidades de bujutsu (práticas de combate) com diferentes técnicas, definições e métodos. Essas novas lutas se caracterizaram nas atuais artes marciais japonesas que tem como fonte principal o Budô.

Quem bebeu dessa fonte e se tornou um dos símbolos do ideal budoka foi o samurai Miyamoto Musashi. Depois de muitas lutas vencidas, o guerreiro percebeu que o objetivo das artes marciais ia além da técnica e da aniquilação do adversário. É, então que ele entende a filosofia do Budô.

Assim como a técnica requer prática, para um budoka atingir suas metas, ele precisa praticar incessantemente as premissas do Budô. Aliada à prática, o estudo teórico também é importante para atingir a serenidade diante das situações complicadas da vida.

O que um Guerreiro deve seguir?:

A fim de conservar os princípios básicos do Budô, a Associação Japonesa de Budô decidiu escrever, em 1987, uma Carta do Budô, em que estabelece alguns ‘mandamentos’ para a prática:

1. Por meio do treino mental e físico é possível formar o caráter do budoka, de modo a tornar um indivíduo disciplinado e de bem;

2. Agir com cortesia e respeito durante o treino e desenvolver o equilíbrio entre o corpo, a mente e a técnica. Evitar a tentação de perseguir apenas a técnica de luta corporal;

3. Ter a humildade e autocontrole durante uma competição ou formas definidas de combate (kata);

4. Demonstrar respeito e cortesia no dojô;

5. Os professores devem encorajar a evolução dos seus alunos e não devem dar ênfase somente às competições ou habilidade técnica;

6. As pessoas que promovem o Budô devem ter mente aberta para compreender os valores tradicionais japoneses. Elas devem desenvolver pesquisas e metodologias de ensino para a sua divulgação;

7. Não importa quão rápido seja o movimento, este deve emanar de uma essência calma e silenciosa;

8. A adversidade não faz esmorecer um praticante do budô, ajuda-o a florescer;

O que um Guerreiro deve evitar?:

- Insolência;
- Confiança excessiva;
- Ganância;
- Raiva;
- Medo;
- Dúvida;
- Suspeita;
- Hesitação;
- Desprezo;
- Vaidade.

Os dez males aos quais um budoka não deve se entregar, segundo um manuscrito da Escola de Kashima Shin (retirado do livro Segredos do Budô, organizado por John Stevens. Editora Cultrix, 11ª edição)


Budô na Educação Japonesa:


A meca do Budô é o Nippon Budokan, entidade que congrega todas as artes marciais do Japão e fica localizada no atual parque de Kitanomaru, onde se localizava o castelo de Edo. Inaugurado em 1964, a obra foi construída a partir da contribuição do governo e do povo japonês e tinha como objetivo primordial ser um local de competições e de ensino do Budô.

Atualmente, uma das maiores preocupações dos mestres é a conservação dos verdadeiros princípios do Budô. A partir de 2012, a filosofia será introduzida na disciplina de educação física do curso ginasial como matéria obrigatória, mas até lá os principais mestres japoneses querem viajar o mundo todo para divulgar o “caminho espiritual” e não deixar com que as artes marciais resumam-se apenas à prática competitiva.

Tipos de Artes Marciais no Japão (Budô):



Entre as Artes Marciais Japonesas mais conhecidas e difundidas no Brasil estão o Karatê, Judô, Aikidô, Kendô, Sumô, Ninjutsu, Shorinji Kempo, Jujitsu. Cada uma dessas artes tem seu próprio estilo, com diferenças significativas no que se refere a filosofia, métodos e utilização de ferramentas de treinamento.

1. Karatê-Dô:
karatê
O Karatê (空手) também chamado de Karatê-Do (空手道) significa literalmente “mãos vazias” ou “caminho das mãos vazias”. Esta arte marcial nasceu em Okinawa, anteriormente conhecido como reino de Ryukyu. Trata-se de uma fusão de vários estilos pré-existentes de artes marciais da região de Okinawa.

O precursor do Karatê no Japão foi Gichin Funakoshi, considerado o “Pai do Karatê Moderno” e também fundador do Shotokan-Ry Karatê-Dô. Foi através dele que o Karatê passou a ser disseminado em 1917 e incorporado na rede pública de ensino do Japão. O Karatê enfatiza especialmente as técnicas “atemi waza” (defesas, socos e chutes).

Além da força física, a prática do Karatê segue a filosofia do zen budismo e enfatiza o equilíbrio entre o corpo e a mente, contribuindo para a disciplina e auto-confiança dos praticantes de Karatê, que são chamados de Karateca. Segundo a Federação Mundial de Karatê, existem 100 milhões de praticantes em todo o mundo.


2. Judô:


O Judô (柔道) significa literalmente “caminho suave” ou “caminho da suavidade”. Foi criado por Jigoro Kano no final do século 19 e rapidamente disseminou-se por todo o planeta, onde foram fundadas escolas “Kodokan“. Jigoro Kano é considerado um dos mais brilhantes mestres das artes marciais de todos os tempos.

A disseminação mundial do judô tem levado ao desenvolvimento de uma série de ramificações, como Sambo e o Jiu-Jitsu Brasileiro. Além de desenvolver habilidades físicas e técnicas de defesa pessoal, o judô dá enfase no auto-aperfeiçoamento pessoal, espiritual e moral de seus praticantes (judocas).

3. Kendô:



O Kendô (剣道) significa literalmente “caminho da espada”. É uma arte marcial caracterizada no combate com a espada japonesa. Trata-se de uma evolução da arte do kenjutsu e seus exercícios e prática se originaram a partir de escolas de esgrima, em especial a escola kenjutsu Itto-ryu, fundada no século 16.

A introdução de espadas de bambu (shinai) e armadura (Bogu) na prática do Kendo é atribuída ao japonês Naganuma Shirōzaemon Kunisato, durante o Período Shotoku (1711-1715). Desta forma a prática de Kendo tornou-se mais ágil e versátil e ao mesmo tempo segura por não oferecer riscos de lesões aos oponentes.

O Kendo é uma atividade física e mentalmente desafiante que combina artes marciais e princípios importantes como disciplina, retidão de caráter, além do equilíbrio entre o corpo, espírito e a mente. Segundo a Federação Japonesa de Kendo, existem 6 milhões de praticantes de Kendo (Kendocas) em todo o mundo.

4. Aikidô:


O Aikidô (合气道) significa literalmente “caminho da harmonia da energia”. Trata-se de uma arte marcial japonesa desenvolvida por Morihei Ueshiba na década de 1920. A arte consiste em técnicas “impressionantes” de auto defesa e também dá ênfase ao desenvolvimento espiritual e filosófico de seus praticantes (Aikidocas).

Segundo Morihei Ueshiba, o Aikido é uma arte marcial moderna que não busca lutas nem competições e por isso é chamada como a Arte da Paz. Esta arte também tem o objetivo de promover valores como amor e compaixão e redirecionar o ataque de um inimigo de uma forma que ambos saiam ilesos. Não é a toa que Ueshiba Sensei é reverenciado por estudantes de aikido como “O Sensei” (Grande Mestre).

5. Sumô:



O Sumô (相扑) é considerado o esporte nacional do Japão e tem suas origens em um passado distante, a partir do século 8 dC, segundo registros históricos. A partir de 728 dC, o imperador Shōmu Tennō passou a realizar jogos oficiais de sumo em festivais anuais de colheita, se estendendo mais tarde em festivais xintoístas.

Com o tempo, o treinamento de sumô acabou sendo incorporado ao treinamento militar. Atualmente, seis grandes torneios são realizados todos os anos no Japão. Os torneios contam com a presença de um sacerdote xintoísta, além de ser repleto de rituais como bater palmas, bater os pés, e jogar sal no ringue antes de cada luta.

Os concorrentes utilizam técnicas para levar o oponente ao chão. Aquele que tocar o chão primeiro com qualquer parte do corpo (Exceto a parte inferior dos pés), perde a luta. Em 1998 foi criada a Confederação Brasileira de Sumo, sendo que o Brasil sediou o primeiro Campeonato Mundial de sumô disputado fora do Japão em 2000.

6. Ninjutsu:



O Ninjutsu (忍术) significa literalmente “Técnica da Espionagem”. Também é conhecido como Ninjitsu, Ninpo e Shinobi-jutsu.

Trata-se de uma arte marcial que nasceu na província de Iga (Mie) e Kōka (Shiga) e reúne estratégias e táticas de guerra não convencionais, além da arte da espionagem supostamente praticada pelo shinobi (vulgarmente conhecido fora do Japão como ninja).


O Ninjutsu é uma prática existente há mais de 2 mil anos e para muitos, este estilo está mais para uma arte de truques, do que arte marcial em si.

Durante o regime feudal, o shinobi (ninja) era conhecido por suas habilidades de disfarce, espionagem, fugas, assassinatos, explosivos, entre outros.

O Ninja seguia um código de conduta chamado Ninpoh Ikkan, diferente dos Samurais, que seguiam o Bushido.

Hoje em dia, o ninjutsu é usado mais como defesa pessoal. As técnicas ninjas são também utilizadas por exércitos de alguns países, como forma de aperfeiçoar as técnicas de auto-defesa, imobilização e agilidade em desarmamento. Mesmo não sendo um esporte e nem havendo competições, o Ninjutsu ainda sobrevive através dos milhares de praticantes espalhados pelo mundo todo, inclusive no Brasil.

7. Jujitsu ou Jiu-Jitsu:



O Jujitsu (柔术) significa literalmente como “técnica suave” e sua principal característica é o não uso de armas. Trata-se de um conjunto de técnicas que se caracteriza por golpes de alavancas, torções e pressões para derrubar e dominar um oponente, incluindo técnicas de agarramento, com golpes de controle (gyaku waza), submissão (katame waza) e golpes traumáticos (ate waza).

Hoje, jujitsu é praticada em muitas formas, antigas e modernas. Vários métodos de jujutsu foram incorporadas ou sintetizados em judô e aikido, além de ser exportado para o mundo todo. Esse estilo de arte marcial também está presente no Brazilian Jiu-Jitsu, uma arte marcial especializada em auto-defesa e luta no chão.

Sua origem pode ser rastreada até o início do século 20, quando o judoca Mitsuyo Maeda emigrou para o Brasil e ensinou técnicas de judô aos brasileiros Luiz França e Carlos Gracie. Podemos dizer que o Jiu-jitsu brasileiro combina várias técnicas de jujutsu, em especial o Judô, dando origem um novo estilo de luta marcial.

8. Shorinji Kempo:



O Shorinji Kempo (少林寺拳法) é uma arte marcial que surgiu depois da Segunda Guerra Mundial, em 1947 através do Mestre Doshin So, um japonês que havia que ficou exilado no norte da China durante a guerra. Ao retornar ao Japão, encontrou um país devastado pela guerra e uma nação desmotivada e pessimista.

Decidiu então fundar o Shorinji Kempo, uma arte marcial, cuja técnica possui algumas semelhanças com o Shaolin Kungfu (Arte Marcial Chinesa), mas que ao mesmo tempo ajuda a desenvolver a auto confiança, coragem, compaixão e sentimento de justiça em seus praticantes, através da filosofia budista.

Apesar da origem do Shorinji Kempo ser recente, esta arte tornou-se popular em muitos outros países, inclusive o Brasil. Segundo a Organização Mundial de Shorinji Kempo, existem mais de 1,5 milhões de praticantes em quase 40 países.

9. Kyudô:



O Kyūdō (弓道) significa literalmente “caminho do arco”. Trata-se de uma arte marcial onde se utiliza arco e flecha. Originalmente era chamado de Kyujutsu, sendo uma disciplina no treinamento dos samurais. No entanto, a partir do século 16, o arco e flecha perdeu seu significado como arma de guerra, e sob a influência religiosas, o Kyudo tornou-se um esporte refinado e contemplativo, como o Yabusame.

10. Sojutsu:



O Sojutsu (枪术) é a arte marcial japonesa em que se utiliza lança (yari). Também é chamada de yarijutsu e trata-se de uma técnica que foi muito difundida durante o Japão Medieval entre os combatentes de guerra. No Japão, ainda existem escolas que ensinam a arte, embora em menor escala em comparação com outras artes. O Jukendo é uma arte inspirada no Sojutsu, na qual utiliza a baioneta como arma.

Até mais!

Grande Abraço!

Oss! ^^

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